A região íntima feminina ainda é um grande tabu e por isso, muitas vezes, os cuidados com a vagina acabam sendo censurados e negligenciados. Mas por quê a vagina é tratada de forma tão equivocada?
Na maior parte dos casos, é uma questão de repressão, que cria um estigma sobre órgãos genitais, corpos femininos e sexualidade e isso se traduz em uma falta de autoconhecimento.
Recentemente, a Nielsen Brasil, Troiano Branding e a Intimus realizaram uma pesquisa com quase quatrocentas mulheres de 16 a 45 anos em três regiões do país e 68% das entrevistadas afirmou ter alguma insatisfação com sua vagina.
Intitulado “Os Estigmas da Vagina”, o estudo traz dados sobre a relação das mulheres brasileiras com sua vulva, seus corpos e sua saúde. E revela que grande parte delas não se sente confortável em tocar no assunto – ou em si mesma.
Reclamações sobre a aparência geral da região íntima, como pelos, cor e tamanho, além de desconhecimento até mesmo sobre o que é cada parte da vulva, mostram o quanto precisamos falar sobre cuidados com a vagina.
Autoconhecimento é fundamental
O primeiro passo para uma mudança dessa realidade é o autoconhecimento.
É simples, quando conhecemos melhor alguma coisa, ela passa a causar menos estranhamento e a ser tratada com mais naturalidade.
Vulva x Vagina
Vamos começar pela nomenclatura, dando nomes certos para lugares certos. O que comumente chamamos de vagina, na verdade, é a vulva.
A vagina é uma cavidade revestida em mucosa, que comunica a vulva com o útero. Ela é o canal de saída de menstruação e por onde nascem os bebês, basicamente um tubo.
A vulva é toda a região externa do órgão genital feminino, do ânus até o monte pubiano, incluindo grandes e pequenos lábios, uretra e clitóris.
E é importante entender essa diferença, principalmente para saber quais são os cuidados especiais com cada uma delas e como fazer a higiene adequada.
Se conhecer para se cuidar
Além da naturalização, o autoconhecimento também está muito ligado ao autocuidado e a saúde. Afinal, só sabemos que algo não está bem em nosso corpo quando nos conhecemos.
Pela falta de intimidade com si, estranha-se os funcionamentos normais da vagina e vulva e acredita-se que tem algo de errado. Por exemplo, alguns tipos de corrimentos e até mesmo o odor natural.
Claro que na eventualidade de cheiros muito fortes ou corrimentos atípicos, pode ser o caso de algum problema, disfunção hormonal, fungo ou bactéria, mas é preciso conhecer bem seu corpo para poder identificar isso.
Por ser uma mucosa, é perfeitamente normal e natural que haja secreção e odor. Pessoas adultas têm hormônios, pelos e cheiros e não há nada para se envergonhar.
Todo corpo é diferente
Não há ninguém igual a nós no mundo, e que bom, né?
Todo corpo é diferente e o mesmo vale para vaginas e vulvas. Existem tons de pele diferentes, algumas vulvas com mais ou menos pelos, outras com lábios maiores, menores e isso é normal!
Até mesmo para uma região tão íntima há um padrão estético considerado mais bonito, o que é uma grande besteira.
Isso pode trazer muitas inseguranças e levar a busca por tratamentos, produtos e até mesmo cirurgias plásticas. Muitas vezes, essas intervenções estéticas têm consequências ruins para a saúde da vaginal, então é preciso tomar cuidado e refletir bem antes de fazer alguma coisa.
O mais importante é que sua vulva e vagina estejam saudáveis!
Cuidados com a vagina e vulva: higiene íntima
Uma das partes mais importantes no cuidado com a vagina e a vulva é a higiene íntima. E como partes diferentes, elas precisam de cuidados distintos!
Cuidado com o papel higiênico
Parece estranho falar sobre tomar cuidado com o papel higiênico, mas essa é uma verdade. Essa folha tão fininha pode acabar causando alguma irritação na sua vulva e até mesmo levando bactérias para a sua vagina.
Quando for se limpar, use sempre o papel higiênico fazendo um movimento de frente para trás, principalmente na hora do cocô. Isso porque, assim, você evita trazer as bactérias para sua vagina e vulva.
E sempre que possível, prefira usar uma ducha externa e lavar a área, ao invés de usar o papel, pois o atrito pode irritar a pele. Evite usar folhas mais ásperas ou perfumadas.
Tenha com você lenços umedecidos
Sabemos que com uma rotina agitada, passando a maior parte do tempo fora de casa, é difícil conseguir manter a higiene tão boa e dificilmente há duchas em banheiros públicos.
Para fugir do papel higiênico áspero e de lugares mais sujos, os lenços umedecidos são uma ótima ajuda e bastante práticos. Escolha opções mais neutras, como aqueles infantis, por não terem álcool ou perfumes, para evitar qualquer tipo de irritação ou alergia.
Eles costumam ter substâncias com detergência e são menos abrasivos, então fazem uma boa limpeza externa.
Hora do banho
É no banho que costuma-se ter problemas na hora dos cuidados com a vagina e a vulva. E acredite, muitos deles são por pecar pelo excesso.
Você sabia que você não deve lavar a vagina? Apenas a vulva!
A vagina é autolimpante e se você fizer alguma intervenção, muito provavelmente, isso vai alterar o pH da região e trazer problemas.
As chamadas duchas íntimas são extremamente agressivas para a vagina, pois retiram a camada de bactérias benéficas presentes na mucosa, que são suas defesas naturais. Isso deixa sua vagina suscetível a infecções e se for feito de forma recorrente, os micro-organismos bons podem abrir espaço para os ruins e resultar em vaginose bacteriana.
A ducha íntima pode ser realizada em alguns casos de alterações no pH, mas apenas com recomendação médica e remédios específicos.
Já a vulva, deve sim ser lavada todos os dias, delicadamente.
Nesse caso, é preciso lavar com cuidado para retirar o esmegma natural produzido pelo corpo. Esse acúmulo de células epiteliais, óleo e gordura genital pode ser eliminado com o uso de apenas água.
Se quiser, é possível utilizar um pouco de sabonete neutro ou sabonete íntimo, mas sem excessos e com movimentos circulares leves. Sabonetes hidratantes e bactericidas não são recomendados, pois podem causar irritações.
Cuidados com a vagina e vulva na menstruação
Durante a menstruação, os cuidados com a vagina e a vulva devem ser redobrados! É importante prestar bastante atenção na hora de fazer a higiene íntima, para garantir que não haja problemas.
O sangue altera o pH vaginal, além de ser como uma cultura de bactérias, então, é bastante comum que role um desconforto, que deve ser monitorado.
Absorventes descartáveis x Coletores
Não só a questão da limpeza importa nesse momento. O seu acessório menstrual escolhido também faz diferença na sua saúde vaginal e na sua rotina.
Por possuir camadas plásticas, os protetores descartáveis impedem a pele da vulva de respirar, o que faz com que lá embaixo fique abafado e quente, ou seja, um ambiente perfeito para bactérias.
Por isso, precisam ser trocados com uma frequência maior, especialmente se o fluxo menstrual for intenso. O que resulta também em mais lixo produzido.
Se você preferir utilizar um coletor menstrual, as recomendações para cuidados com a vagina são de sempre lavar bem as mãos antes de colocar ou retirar o copinho.
E claro, após o fim do ciclo, higienizá-lo direito e armazená-lo em uma local limpo e seco.
Os coletores menstruais podem ser usados por até 12 horas e são feitos de silicone hipoalergênico, que impede a proliferação de bactérias.
Atenção para os produtos!
A região íntima é bastante sensível, portanto, é preciso atenção com produtos que vão ser utilizados.
Na hora do banho, é recomendado que se evite o uso de sabonetes de corpo. Sabonetes íntimos ou sabonetes neutros são mais indicados, por terem um pH mais ácido e próximo ao da vagina.
Quando for escolher um lubrificante, prefira os que são mais naturais, à base de água, livres de álcool ou parabenos. Fuja de lubrificantes perfumados e não utilize alimentos.
E um consenso entre todos os ginecologistas é que a sua vagina e sua vulva não precisam – nem devem – ser perfumadas ou hidratadas, por isso, não use desodorantes íntimos ou hidratantes normais. Se sentir um ressecamento diferente, vá ao médico.
Hábitos bons para a saúde da sua vagina
Além de todos esses cuidados com a vagina e vulva, existem alguns hábitos do dia a dia que podem contribuir para manter sua região íntima saudável:
- Boa alimentação;
- Dormir sem calcinha ou com calcinha de algodão;
- Fazer xixi após o sexo;
- Se lavar – ou higienizar bem – após o sexo;
- Banhos de assento;
- Evitar roupas muito apertadas e calcinhas de materiais sintéticos;
- Não ficar com roupa de banho úmidas por muito tempo;
- Fugir de protetores diários descartáveis;
- Não deixar a roupa íntima secando no banheiro;
- Ir regularmente ao ginecologista.
A higiene íntima e os cuidados com a vagina e vulva não devem ser um tabu. Esse é um assunto que precisa ser discutido sem culpa ou vergonha, afinal, essas são partes do corpo como qualquer outra.
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